7 de fevereiro de 2022 às 8:19
Impulsionado pela entrada de recursos de investidores estrangeiros, o mercado financeiro iniciou o ano em trajetória de recuperação. O Ibovespa, índice de referência na Bolsa, acumula alta de 7,08%, e o dólar tem queda de 4,56% até sexta-feira.
No mês de janeiro, a Bolsa atraiu R$ 32,49 bilhões de investidores fora do Brasil, o quarto mês seguido de ingresso de recursos e a segunda maior marca em um período de dez anos. Até 2 de fevereiro, esse movimento prosseguia em alta, com um total de R$ 35,10 bilhões aplicados.
As razões que justificam o apetite destes investidores são várias. A Bolsa brasileira ficou barata depois de ter acumulado desvalorização de 11,93% no ano passado. Além disso, analistas apontam um movimento de busca por papéis ligados a commodities.
Eleição em segundo plano
A preocupação com fatores econômicos deixou em segundo plano o que seria impensável em outros tempos: o cenário eleitoral. Economistas de bancos e gestoras, em geral, evitam discutir abertamente as expectativas para a disputa deste ano. Em conversas reservadas, afirmam que Lula e o presidente Jair Bolsonaro, os dois primeiros nomes nas pesquisas, têm histórico bastante conhecido.
A avaliação entre os analistas é que alguns dos potenciais medos de guinada na condução do país já foram incorporados aos preços no fim do ano passado. Além disso, a leitura é que as principais candidaturas devem se aproximar do centro e adotar postura mais pragmática.
Isso não significa, porém, que o mercado financeiro esteja imune aos rumos da corrida eleitoral, ao vaivém das pesquisas e às sinalizações dos presidenciáveis.
— O quadro político está mais ou menos estabelecido, mas tem dinâmicas que surpreendem. Talvez tenhamos uma piora disso na segunda metade do ano, quando ficar mais claro o quadro que vamos ter para a sucessão presidencial — afirmou Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central.
A percepção de risco eleitoral adiante não é o único fator que coloca em dúvida a manutenção da calmaria no mercado. A partir de março, o mercado deve passar por uma “virada de chave” com o início do processo de aumento dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Enquanto não chega esse momento, o país tem se beneficiado de uma corrida por “ações de valor”, papéis de empresas com histórico mais consolidado e ligados à “velha economia”, como as commodities. Na sexta-feira, o barril do Brent superou os US$ 93, na maior cotação em sete anos, e parte do mercado avalia que há espaço para chegar aos US$ 100 nos próximos meses.
Essa procura ocorre em um momento em que os negócios ligados à tecnologia enfrentam forte oscilação. A Nasdaq, que reúne papéis do setor, acumula queda de 9,89% no ano. O Facebook teve a maior perda de valor de mercado da história na semana passada, após o balanço decepcionar investidores, e a Amazon, a maior valorização já registrada de uma companhia americana em um único pregão.
— Em momentos de aperto monetário ou ambiente inflacionário, os investidores, de maneira geral, procuram portos seguros e vão para ações de valor. E o Brasil tem uma Bolsa com maior composição de papéis de valor do que de tecnologia — afirmou o diretor da Santander corretora, André Rosenblit.
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Com mais dinheiro entrando, a cotação do dólar cai. A moeda chegou a ser negociada abaixo de R$ 5,30 neste começo de ano e encerrou na última sexta-feira a R$ 5,32. Para André Kitahara, gestor de portfólio macro da AZ Quest, a janela até maio pode seguir sendo favorável ao real.
Uma desaceleração mais forte dos índices de inflação poderia ajudar a moeda local, à medida que aumentaria o juro real (diferença entre o juro nominal e a inflação), tornando o país ainda mais atraente para o ingresso de recursos.
Riscos fiscais
— Estamos com uma moeda que se depreciou bastante e muitas empresas estão sendo vendidas (ações na Bolsa) a preços interessantes. Foi um conjunto de fatores que ajudou agora, mas não tinha ajudado no passado — afirmou o sócio-fundador e diretor de Investimentos da Kinitro Capital, Carlos Carvalho.
No radar dos investidores, porém, pairam ainda os riscos fiscais e a redução de liquidez no exterior em um cenário de alta de juros. A mudança na política monetária americana pode fazer com que os investidores prefiram se proteger na segurança do dólar e dos títulos do Tesouro dos EUA.
— Muito provavelmente, janeiro vai ser o melhor mês do ano em termos de entrada de estrangeiros. E avalio que vamos ter uma pausa na queda do dólar frente ao real — afirmou Rosenblit.
Vale lembrar que o Banco Central (BC) também está em trajetória de alta de juros, embora se espere uma magnitude menor na próxima reunião. Semana passada, o BC elevou a taxa para 10,75% ao ano, o que significou uma volta ao patamar de dois dígitos após quase cinco anos.
O diferencial de juros em relação ao exterior ajuda o real, pois permite que investidores tomem dinheiro em países com taxas mais baixas e invistam em outros com juro maior e, portanto, maior rentabilidade.
— De forma geral, o diferencial de juros tem impacto, mas não é o principal. A taxa de câmbio depende muito do que acontece com o preço de commodities, do que acontece com o dólar relativamente a demais moedas e de medidas de risco-país — ressaltou Schwartsman, para quem o Brasil surfou na onda positiva dos emergentes no início do ano.
O GLOBO
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