Blog do Dina - Como e por que o ex-governador Robinson Faria tenta anular provas de obstrução de justiça e corrupção contra ele


Como e por que o ex-governador Robinson Faria tenta anular provas de obstrução de justiça e corrupção contra ele

10 de fevereiro de 2022 às 12:58

Quase dois meses após o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, trancar a ação penal que corre contra o ex-governador Robinson Faria por obstrução de justiça, o subprocurador-geral da República, Alcides Martins, fez chegar a Toffoli uma manifestação contrária à ação do ministro, e pedindo a continuidade das investigações contra o ex-governador.

Em dezoito páginas, Martins refutou a defesa de Faria e chegou até a constranger Toffoli. Isso porque os advogados do ex-governador argumentam que há vício de origem na Operação Anteros, em que Robinson é acusado de tentar obstruir investigações para manter calada a ex-procuradora da Assembleia Legislativa, Rita das Mercês, pivô de outra operação, a Dama de Espadas, na qual Robinson também é alvo, mas por suspeitas de corrupção em desvios de recursos.

Toffoli não pestanejou e deu decisão beneficiando Robinson. Mas Alcides Martins destacou que o próprio ministro tem entendimento contrário ao que concedeu ao ex-governador, resgatando um trecho de voto que Toffoli deu ao defender a legalidade de documentos do COAF.

O x da questão

Aqui está o xis da questão. As três operações mais emblemáticas do Rio Grande do Norte, Dama de Espadas, Candeeiro e Anteros têm origem no mesmo Relatório Fiscal de Inteligência do COAF.

O órgão não investigou ninguém, mas detectou movimentação financeira atípica em contas de prepostos e agentes políticos e notificou o Ministério Público, que abriu investigação. Foi assim que tudo começou.

"Não se tratou de geração de RIF por encomenda (fishing expedition) ou de investigação sem embasamento prévio. Ao contrário, tratou-se do envio de relatório de transações financeiras suspeitas, dada a vultuosidade dos valores envolvidos, totalmente incompatíveis com a renda mensal dos servidores públicos", defendeu o subprocurador-geral da República ao pedir a continuidade das investigações contra Robinson.

A origem

Robinson nunca foi alvo na origem de tudo. Em junho de 2009, quando as investigações sobre o caso começaram a se desenhar, a Procuradoria Geral de Justiça no RN determinou que a apuração fosse para promotores do MPRN porque o que se estava verificando eram movimentações atípicas de servidores da Assembleia Legislativa e empresas privadas. À época, Robinson presidia a ALRN, mas nenhum deputado estava na mira.

A defesa do ex-governador sustenta agora que o envolvimento de agentes com foro privilegiado, o que se verificou no curso da investigação, e não na origem dela, deveria ter feito com que o caso passasse para instâncias superiores. Mas a PGR defendeu uma obviedade na cronologia dos eventos.

"De início não havia indícios da participação do então deputado estadual Robinson Faria na empreitada criminosa, provas que surgiram apenas depois, fortuitamente, no curso da investigação, o que não é considerado prova ilícita", disse o subprocurador-geral da República ao STF.

A forma

Sem conseguir trancar nas instâncias inferiores a investigação que apura como tentou obstruir a justiça (Operação Anteros) e, de quebra, se livrar de outra apuração que mira corrupção sobre si (Operação Dama de Espadas), Robinson foi para o STF, de onde conseguiu uma decisão que paralisou a apuração contra ele, provocando forte reação da PGR.

A Procuradoria Geral da República lembrou a Toffoli que o pedido de trancamento jamais poderia ter sido feito ao STF, sem que antes avançasse por instâncias como o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte.

Foi exatamente isso que foi feito, pois não tendo conseguido trancar a ação penal na 6ª Vara Criminal de Natal, onde corre, a defesa do ex-governador foi direto ao STF.

"Tem-se que a ação penal que a Defesa quer ver anulada atualmente está em trâmite perante o Juízo da 6ª Vara Criminal da comarca de Natal/RN, de modo que a presente impetração, dirigida diretamente a esta Suprema Corte, configura indevida supressão de instância recursal", defendeu a PGR.

À espera

O pedido da PGR está esperando que Toffoli se manifeste, o que não aconteceu ainda e não há prazo.

O futuro político de Robinson passa pelo que será decidido na investigação, além de outro caso, dessa vez no TSE, onde ele busca reverter a inelegibilidade imposta pelo Tribunal Regional Eleitoral.

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