2 de junho de 2022 às 11:22
O presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou nesta quinta-feira (2) projeto de lei que alterava o nome do Dia do Índio para Dia dos Povos Indígenas.
O argumento da proposta é de que "povos indígenas" é termo mais respeitoso e identificado com as comunidades. Especialistas apontam que a palavra "índio" é preconceituosa e estigmatizada.
O governo, por sua vez, diz que "índio" já é consagrado na cultura e, portanto, o projeto não tem interesse público. A comemoração da data é em 19 de abril.
"Em que pese a boa intenção do legislador, não há interesse público na alteração contida na proposta legislativa, uma vez que o Poder Constituinte Originário adotou, no Capítulo VIII da Constituição, a expressão 'Dos Índios', tratando-se de termo consagrado no ordenamento e na cultura pátrias, não havendo fundamentos robustos para sua revisão", diz, no Diário Oficial da União.
Bolsonaro acompanhou sugestão de veto do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que se encarrega da temática no governo e sob o qual está a Funai (Fundação Nacional do Índio).
O projeto altera decreto de 1943 e é de autoria da única parlamentar indígena do Congresso, Joênia Wapichana (Rede-RR).
"A nossa intenção ao renomear o dia do ano destinado a, de forma simbólica, ressaltar não o valor do indivíduo estigmatizado "índio", mas sim o valor dos povos indígenas para a sociedade brasileira", diz a justificativa.
O texto teve apreciação conclusiva na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), não precisou passar pelo plenário, e foi aprovado em votação simbólica.
O projeto de lei deixou o Senado no último dia 12 para a sanção presidencial.
O Congresso poderá reverter o veto de Bolsonaro, em análise conjunta da matéria.
Doutor em educação pela Universidade de São Paulo e pós-doutor em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos, Daniel Munduruku defende que a palavra "índio" remonta a preconceitos –por exemplo, a ideia de que o indígena é selvagem e um ser do passado– além de "esconder toda a diversidade dos povos indígenas".
Para ele, a comemoração do Dia do Índio é uma "ficção", que retrata uma imagem folclórica e preconceituosa dos povos indígenas.
"A palavra 'indígena' diz muito mais a nosso respeito do que a palavra 'índio'. Indígena quer dizer originário, aquele que está ali antes dos outros", defende Munduruku, que pertence ao povo indígena de mesmo nome, hoje situado em regiões do Pará, Amazonas e Mato Grosso.
O presidente Jair Bolsonaro é um dos maiores defensores do marco temporal, em análise no Supremo Tribunal Federal (STF).
Defendida por ruralistas, a medida prevê que terra indígena só poderá ser demarcada caso fique comprovado que já ocupavam a área na época da promulgação da Constituição.
O texto, assinado em 1988 por Ulysses Guimarães, também previa que a União concluísse a demarcação de todas as terras indígenas num prazo de até cinco anos, o que não ocorreu.
Folha de S. Paulo
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