Blog do Dina - Federações enfrentam dissidências e criam 'casamentos de fachada' nos estados


Federações enfrentam dissidências e criam 'casamentos de fachada' nos estados

6 de junho de 2022 às 9:33

A criação de federações partidárias, que passarão a valer a partir das eleições deste ano, uniu adversários locais no mesmo campo político, começa a enfrentar dissidências e pode resultar em uma espécie de "casamento de fachada" em parte dos estados.

O prazo para o registro de federações partidárias se encerrou na última segunda-feira (30) com a criação de três federações. No campo da esquerda PT, PC do B e PV estarão amarrados pelos próximos quatro anos, assim como o PSOL e a Rede. Na centro-direita, se uniram o PSDB e Cidadania.

Nas federações partidárias, as legendas que se associam são obrigadas a atuar de forma unitária ao menos nos quatro anos seguintes às eleições, nos níveis federal, estadual e municipal, sob pena de sofrerem punições. É um modelo diferente das coligações, que foram vetadas em eleições proporcionais.

O novo mecanismo deve ajudar os partidos a superar a cláusula de barreira, que estabelece percentual mínimo de votos e de deputados eleitos para manter o acesso à propaganda partidária e ao fundo eleitoral.

Batizada com o nome "Brasil da Esperança", a federação entre PT, PC do B e PV enfrenta imbróglios na montagem de palanques estaduais em Pernambuco, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão e Distrito Federal.

Os principais focos de atrito se dão entre PT e PV, partido que na última legislatura se alinhou a partidos de centro-direita em estados como a Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo.

A adesão à federação e o apoio à pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 fez com que parte dos filiados deixasse o partido. Mas ainda há uma parcela que permaneceu no PV e ainda assim flerta com candidatos de outros partidos nos estados.

"Há um esforço muito grande para que não haja ruído na nossa caminhada até a eleição. A gente torce para que os presidentes dos partidos nos estados tentem negociar, a gente só vai intervir onde tiver problema", afirma o presidente nacional do PV, José Luiz Penna.

Em São Paulo, por exemplo, ao menos 12 prefeitos do PV anunciaram apoio à reeleição do governador Rodrigo Garcia (PSDB) em detrimento da pré-candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).

O comando do partido alega que são prefeitos ligados a deputados que deixaram a legenda na janela partidária e que tendem a não permanecer nas próximas eleições municipais.

O Tocantins é outro estado com potencial de conflito. O PV local, liderado pela família Lélis, é próximo ao governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e deve apoiar, mesmo que informalmente, a sua reeleição. O PT, por sua vez, lançou ao governo o ex-deputado Paulo Mourão.

O cenário é parecido em Mato Grosso, onde o vice-prefeito de Cuiabá José Roberto Stopa (PV) desistiu de concorrer ao governo após o PT decidir ter candidato próprio ao cargo. Stopa saiu de cena atirando.

"Eu já estava de saco cheio. Nós fizemos um acordo com a federação, que poderia aparecer dez nomes, vinte nomes e o melhor nome seria escolhido candidato. O que não pode é companheiro criticar companheiro, ficar com essa mesquinharia", disse em entrevista à imprensa.

O imbróglio agora se voltou para a vaga para o Senado: o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), trabalha para emplacar sua mulher Márcia Pinheiro (PV), mas esbarra no PT, que lançou a professora Enelinda Scalla.

Já no Maranhão, a federação uniu sob o mesmo guarda-chuva adversários históricos no estado: o PC do B, que já abrigou o ex-governador Flávio Dino (PSB), estará unido ao PV, partido ligado à família Sarney que fez oposição ferrenha ao então governador.

"Não tenho restrição a Flávio Dino, mas é preciso diálogo. Estamos vivendo um novo momento no Maranhão sem aquela dicotomia entre Sarneys e anti-Sarneys. É um projeto uma nova geração", diz o deputado estadual Adriano Sarney (PV).

A união, contudo, enfrenta conflitos. O PV critica a influência do PSB nos rumos da federação com a pressão pela escolha do nome do ex-secretário Felipe Camarão (PT) como candidato a vice do governador Carlos Brandão (PSB).

Em Pernambuco, a disputa é entre PT e PC do B e se dá em torno do Senado. A vice-governadora Luciana Santos (PC do B) pleiteia concorrer na chapa de Danilo Cabral (PSB), mas o PT indicou a deputada estadual Teresa Leitão. Procurada, Luciana Santos disse que a situação está em debate interno.

A federação entre PSDB e Cidadania também enfrenta divergências no campo nacional. Enquanto os tucanos ainda não definiram se terão candidatura própria ao Planalto, o Cidadania já definiu o seu apoio à pré-candidatura de Simone Tebet (MDB).

Nos estados, a decisão de unir os partidos também gerou baixas. A principal delas foi a desfiliação do governador da Paraíba João Azevêdo, que trocou o Cidadania pelo PSB e vai disputar contra o PSDB, que concorre com o deputado Pedro Cunha Lima.

Veja a matéria completa.

Folha de S. Paulo

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