Blog do Dina - Eleições 2022: por que abstenção pode impedir que pleito seja decidido no 1º turno


Eleições 2022: por que abstenção pode impedir que pleito seja decidido no 1º turno

28 de setembro de 2022 às 12:12

As sondagens eleitorais mais recentes mostram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com chance de vitória ainda no primeiro turno das eleições presidenciais, desbancando o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição.

Mas a possível alta abstenção pode fazer com que o pleito presidencial não se encerre no próximo domingo (2/10).

E a razão para isso está no nível de escolaridade e de renda daqueles que deixam de votar. Parcelas mais pobres e menos escolarizadas do eleitorado costumam comparecer menos às urnas no Brasil.

E é neste segmento que Lula tem maior intenção de voto, como mostram as pesquisas.

No geral, Lula aparece com cerca de 34% de intenção de voto estimulado no primeiro turno entre eleitores com Ensino Superior, mas com 53% entre aqueles com Ensino Fundamental.

Sendo assim, para que o petista assegure a vitória ainda no primeiro turno, é fundamental que seus potenciais eleitores compareçam para votar, diz o cientista político Jairo Nicolau em artigo recente.

Nicolau analisou os dados das eleições de 2018 e mostrou que a escolaridade do eleitor é um "fator decisivo" para o comparecimento eleitoral — o percentual cresce de maneira constante à medida que aumenta a faixa de escolaridade.

"Entre os analfabetos, apenas 49,2% compareceram às urnas, enquanto entre os eleitores com curso superior o percentual de comparecimento foi de 88,4%, uma diferença de mais de quase 40 pontos percentuais. Vale lembrar que o voto não é obrigatório para os analfabetos", diz ele.

Segundo Nicolau, "se o padrão observado em 2018 se repetir em 2022, há uma boa e uma má notícia para a candidatura de Lula".

"A boa é uma maior participação eleitoral das mulheres (elas tendem a comparecer mais que os homens). Os números são pequenos, mas lhe favorecem. A má notícia é que eleitores de baixa escolaridade comparecem muito menos do que os de escolaridade alta e média; até agora, as pesquisas mostram que Lula lidera com folga entre os eleitores que cursaram até o fundamental completo ou não foram à escola".

Nicolau acrescenta que a escolaridade foi fundamental para que Bolsonaro assegurasse a vitória em 2018, pois teve amplo apoio dos eleitores de média e alta escolaridade.

"Pode ser novamente em 2022 para a vitória de Lula. Mas é fundamental que seus potenciais eleitores compareçam para votar. A convocação para que os eleitores de baixa escolaridade (e baixa renda) saiam de casa no dia 2 de outubro pode ser decisiva para Lula", conclui Nicolau.

Impossível de prever abstenção
Diretores de institutos de pesquisas ouvidos pela BBC News Brasil concordam com essa premissa.

Eles ressalvam, contudo, que não é possível prever o nível de abstenção nas eleições deste ano — apesar de ela não ter mudado consideravelmente se analisarmos as últimas eleições brasileiras.

No entanto, nas eleições de 2018, por exemplo, ela foi de 20,3%, o nível mais alto desde 1998, quando 21,5% do eleitorado não compareceu às urnas. Em 2010, de 18,1%. Em 2006, de 16,7%. E em 2002, quando Lula se tornou presidente pela primeira vez, de 17,7%.

Sendo assim, numa eleição em que a disputa por cada voto pode decidir o pleito ainda no primeiro turno (o candidato mais votado tem que ter a maioria absoluta dos votos válidos para assegurar a vitória), essas pequenas diferenças porcentuais podem fazer a diferença, dizem eles.

Luciana Chong, diretora do Datafolha, diz que se o nível de abstenção se mantiver como o de 2018, isso pode "desfavorecer Lula, uma vez que o perfil dessa abstenção é próximo ao perfil dos eleitores dele".

"Mas precisamos avaliar se esse perfil de abstenção se manterá", acrescenta.

Felipe Nunes, diretor do instituto de pesquisas Quaest, concorda: "Se a abstenção seguir o padrão normal, sim, pode dificultar Lula vencer no 1º turno".

E Márcia Cavallari, CEO do Ipec, também: "Nas eleições de 2018, de acordo com o TSE, a abstenção foi maior entre os menos escolarizados e isso pode sim impactar na votação de Lula já que ele tem uma boa votação neste segmento".

Outro elemento que pode mexer nessa xadrez eleitoral é a taxa de comparecimento dos eleitores dos outros candidatos.

Segundo o DataFolha, quase 90% dos apoiadores de Lula e Bolsonaro têm ao menos um pouco de vontade de votar. Entre os eleitores de Ciro Gomes, 34% não têm "nenhuma vontade" de ir às urnas. No eleitorado de Simone Tebet, essa taxa é de 40%.

Como lembra o colunista da Folha de S. Paulo Bruno Boghossian em artigo recente, "o baixo compromisso de eleitores de Ciro e Simone pode ser favorável ao ex-presidente. Se parte não aparecer para votar, o número de votos válidos de que Lula precisa para vencer no primeiro turno fica menor. Esse grupo também pode ajudá-lo se aderir ao voto útil".

Veja a matéria completa.

BBC Brasil

Foto: José Cruz/Agência Brasil

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