Blog do Dina - 'Vote na minha mulher' se repete em campanhas de esposas de políticos


'Vote na minha mulher' se repete em campanhas de esposas de políticos

28 de setembro de 2022 às 12:31

"Conja do Sergio Moro" e "lavajatista em São Paulo", Rosângela Moro (União Brasil) colocou seu nome em letras miúdas nas bandeiras que seus apoiadores carregam pelas ruas da capital paulista. O protagonista é o sobrenome, tanto nos materiais de campanha quanto no horário eleitoral —quando o ex-juiz da Lava Jato aparece e pede votos do eleitor para a mulher, candidata a deputada federal por São Paulo.

Assim como Rosângela, outras mulheres têm os respectivos maridos como padrinhos nas eleições. Muitos deles aparecem e falam no curto espaço destinado aos candidatos a cargos no legislativo na propaganda eleitoral.

São os casos de Flávia Franchiscini (União Brasil), Séfora Mota (Podemos) e Nereide Pedregal (Avante), que usaram a estratégia em suas campanhas no Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, respectivamente.

No Ceará, a esposa do candidato ao governo do estado, Capitão Wagner (União Brasil), adotou um nome na propaganda e na urna para não deixar dúvidas da relação com o marido. Virou Dayany Do Capitão.

O fenômeno chama a atenção no ano em que houve recorde no número de candidatas. São 33,4% do total de postulantes.

"O apadrinhamento masculino é uma das principais estratégias discursivas das campanhas eleitorais das mulheres", afirma a cientista política Mércia Alves.

Esse recurso, comum no universo político, captura o prestígio de uma liderança conhecida do público e transfere valores como confiabilidade e competência a um estreante.

"Mulheres não são naturalmente vistas como capacitadas para atuar em espaços de poder", diz Alves. Tal raciocínio tem raiz na ideia de que as mulheres pertencem ao espaço privado e representam o sentimento, enquanto os homens atuam no espaço público com a razão.

Cientes da presença desses estereótipos na sociedade brasileira, as campanhas mobilizam símbolos conhecidos do público, como o de esposa.

Rosângela lançou-se ao público em 2016, com a página "Eu MORO com ele", no Facebook. Por ali, a advogada agradecia manifestações de apoio que o então juiz recebia.

Nas redes sociais, diz que viveu a Lava Jato dentro da sua casa e faz brincadeiras como "ping pong dos conjos", em que fala curiosidades do relacionamento com Moro. O atual candidato ao Senado pelo Paraná também ia concorrer por São Paulo, mas teve sua candidatura barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral do estado.

"Se um marido ajudando sua esposa é machismo, uma esposa ajudando seu marido é o quê?", perguntou ela, quando questionada sobre o assunto. "Ele é um entusiasta de meus projetos e luta ao meu lado para que se concretizem. Isso não é e nunca deve ser machismo. É incentivo e amor."

Levantamento do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) mostra que, no pleito de 2018, 172 pessoas com parentesco político foram eleitas para a Câmara dos Deputados. Dentre os homens eleitos, 33% tinham familiares políticos, contra 36% das mulheres eleitas.

A grande diferença está no grau de parentesco. Apenas 8% dos homens com parentesco político eleitos tinham uma companheira que também atuava na vida pública, número que salta para 54% em relação às mulheres.

A baixa presença feminina na política brasileira explica parte dessa discrepância. Em 2018, as mulheres ocuparam apenas 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados e, ainda hoje, são minoria no alto escalão de governos de distintas ideologias. Em 2020, só uma mulher foi eleita na prefeitura de uma capital.

As cotas eleitorais de gênero foram criadas para corrigir essa distorção. Desde 2018, os partidos precisam distribuir o fundo eleitoral proporcionalmente ao número de candidatas que lançarem —ao menos 30%. Os partidos, no entanto, descumpriram a regra este ano.

"Os homens também vêm de família política, mas eles seguem vários caminhos para chegar à cadeira. O impacto da família parece ser maior para as mulheres do que para os homens", afirma a cientista política Danusa Marques.

Veja a matéria completa.

Folha de S. Paulo

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