Blog do Dina - Cocaína rosa, maconha sintética e popper: os riscos das novas drogas sintéticas usadas por jovens no Brasil


Cocaína rosa, maconha sintética e popper: os riscos das novas drogas sintéticas usadas por jovens no Brasil

26 de novembro de 2022 às 9:38

Não há dúvida de que os jovens penaram muito durante a pandemia. Meninos e meninas em pleno vigor físico e mental, tiveram de aprender rapidamente a guardar e remoer sentimentos e angústias com a suspensão de suas vidas fora de casa. Quando finalmente as regras de saúde contra o coronavírus foram flexibilizadas, eles acreditaram então que reencontrariam a sensação de liberdade e a vontade de poder ser quem eles queriam ser, sem amarras. Mas ninguém saiu desse período de enclausuramento da mesma forma que entrou.

Parte deles passou a recorrer a substâncias ilegais na tentativa de fugir da realidade que se apresentava e tentar aproveitar o momento ao lado dos amigos sem se preocupar com os problemas do mundo real. Nesse cenário, novas drogas se encaixaram perigosamente pelos efeitos proporcionados (alucinógeno e estimulante) e local de consumo (baladas). Entre elas, os compostos sintéticos com os nomes de poppers, cocaína rosa e K2. Tratam-se de compostos que começam a provocar estragos sem limites na nova geração.

São inúmeros os relatos de usuários na internet. Inalável, a poppers, por exemplo, dá um prazer aos usuários descrito como “indescritível”. Entre os principais efeitos estão a desinibição, aumento da libido, crescimento do prazer sexual, euforia, e relaxamento muscular. A substância age em segundos, e funciona como uma névoa fazendo a pessoa esquecer dos problemas da vida real.

Essa droga era prescrita pelos médicos em meados de 1867 como medicamento para tratar angina, dor no peito causada pela diminuição do fluxo de sangue no coração. Eram vendidas em cápsulas, que deveriam ser quebradas — “popped”, por isso a origem do nome da droga — para o paciente inalar o conteúdo e, então, ter o alívio da dor.

Entretanto, pode ser viciante e causar consequências, como queda súbita da pressão sanguínea, tontura, elevação da frequência cardíaca, e até riscos mais graves, como pressão nos olhos, deflagrando para o glaucoma — a substância faz os vasos sanguíneos do corpo se alargarem. Além de reações respiratórias mais graves, como sinusite e chiados no peito.

A droga chamada K2 (ou maconha sintética) é a que mais cresce entre os jovens. Fabricada em laboratório em forma líquida, foi desenvolvida para simular os efeitos da maconha, mas age de forma muito mais intensa no organismo. Ela atua no mesmo receptor que o THC (tetrahidrocanabinol) —responsável pelo efeito da erva — e proporciona um efeito mais imprevisível. Ela é liquida e sem cheiro. Pode ser borrifada em material vegetal seco, como flores ou oréganos, e triturados para que possam ser fumados ou vendidos como líquidos para serem vaporizados e inalados em cigarros eletrônicos. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo, houve um crescimento de quase 2.000% nas apreensões dessa droga de 2018 até agora.

A cocaína rosa, também chamada de “erox”, em alusão a Eros, o deus grego do amor, tem forte efeito afrodisíaco. Com alto custo de produção em laboratório, é praticamente restrita a usuários com alto poder aquisitivo. No fim do ano passado houve uma grande apreensão dessa droga no Brasil, em Brasília, pela Polícia Civil do Distrito Federal.

— O que esses compostos têm em comum é serem estimulantes e amplificarem a realidade. Eles atraem jovens pressionados pela pressão de estudar e produzir mais. Isso os deixa ansiosos, depressivos e a pandemia não ajudou em nada esse cenário. Com isso, muitos querem cada vez mais se sentir anestesiados, fugir da realidade e do sofrimento. Eles precisam ter uma sensação positiva da vida, e só conseguem através dessas substâncias — explica a psiquiatra Camila Magalhães, fundadora do centro Caliandra Saúde Mental.

A psiquiatra afirma ainda que grande parte dos efeitos nocivos ainda são desconhecidos.

— Muitas das ações da droga ainda são imprevisíveis. Para se ter uma ideia, os traficantes proíbem que os usuários consumam a substância nos pontos onde ela é vendida por causa disso — diz a médica.

Entre essas novas substâncias, há uma avassaladora. Com o nome de krokodil, a droga se configura como um dos entorpecentes mais perigosos do mundo. Ela começou a ser produzida clandestinamente na Rússia por volta dos anos 1990. Tendo como base a desomorfina, um derivado da morfina, pode causar insônia, depressão, ataques de pânico e pensamentos suicidas. O estrago não para por aí. Na região da aplicação, a pele costuma ficar com uma coloração escura e escamar – muitas vezes deixando a pele exposta. Estima-se que ela tenha chegado no Brasil nos últimos cinco anos.