Blog do Dina - 'Desafio do apagão': em menos de dois anos, pelo menos 20 crianças e adolescentes morreram por tendência perigosa na web


'Desafio do apagão': em menos de dois anos, pelo menos 20 crianças e adolescentes morreram por tendência perigosa na web

19 de janeiro de 2023 às 14:43

Entre 2021 e novembro de 2022, pelo menos 15 crianças com até 12 anos, e cinco adolescentes, de 13 ou 14 anos, morreram após participar do "desafio do apagão" nas redes sociais, segundo um levantamento da Bloomberg Businessweek.

Em menos de dois meses, este número já foi alterado, diante da morte de uma menina na Argentina na última sexta-feira, reacendendo o alerta para os responsáveis ficarem atentos ao grau de perigo que os jovens acessam na web. Segundo o portal de notícias, os dados foram agrupados a partir de reportagens, registros judiciais e entrevistas com familiares.

O "desafio do apagão" consiste em prender o ar com o objetivo de mostrar aos seguidores por quanto tempo foi possível ficar sem respirar. Segundo a tia da vítima, a garota, chamada Milagros Soto, teria se sufocado ao fazer o vídeo para o TikTok.

Em nota, a empresa lamentou o ocorrido e frisou que a segurança dos usuários é tratada como sua prioridade.

"Sentimos muito pela trágica perda desta família. A segurança da nossa comunidade é prioridade e levamos muito a sério qualquer ocorrência sobre um desafio perigoso. Conteúdos dessa natureza são proibidos em nossa plataforma e serão removidos caso sejam encontrados", diz o comunicado do TikTok.

Outras mortes de crianças e adolescentes relacionadas ao 'desafio do apagão':

  • Em 20 de janeiro de 2021, Antonella Sicomero, de 10 anos, morreu na comuna de Palermo, na região da Sicília, na Itália.
  • Em fevereiro de 2021, Arriani, de 9 anos, morreu em em Milwaukee, nos EUA.
  • Em 22 de março de 2021, Joshua Haileyesus, de 12 anos, foi encontrado desacordado no estado do Colorado, nos EUA, e ficou 19 dias respirando com ajuda de aparelhos, até sua morte.
  • Em junho de 2021, ocorreram mais três mortes: Nate Squires, 13 anos, em Massachusetts (EUA); LaTerius Smith Jr., 9 anos, no Tennessee (EUA); e James Boyd-Gergely, 14 anos, na Austrália.
  • Em julho de 2021, Lalani Walton, de 8 anos, foi encontrada morta em seu quarto, no Tennessee (EUA).
  • Em setembro de 2021, Hayden Robert Craig, de 10 anos, foi encontrado morto em seu quintal na Geórgia (EUA).
  • Em dezembro de 2021, Nylah Anderson, de 10 anos, foi encontrado morto no estado americano da Filadélfia.
  • Em agosto de 2022, Archie Battersbee, de 12 anos, morreu em Essex, na Inglaterra, após passar meses ligado a um equipamento de suporte de vida; e Leon Brown, de 14 anos, foi encontrado morto em sua casa na Escócia.

Alertas sobre utilização de redes sociais entre usuários menores de idade ganharam destaque nos últimos anos em razão de desafios como o de prender a respiração. Este, contudo, está longe de ser o único ato capaz de causar danos em circulação na internet. Alguns perduram por mais de 10 anos. Vídeos com a hashtag do "desafio da canela", por exemplo, ainda são encontrados em redes sociais, mesmo que seus riscos sejam frequentemente explicados desde, pelo menos, o ano de 2013. Este desafio consiste em engolir uma colher de sopa de canela pura num curto intervalo de tempo, o que aumenta as chances de aspirar o pó, podendo gerar inflamação pulmonar, pneumonia ou crise de asma.

Entre as tendências de rede social mais preocupantes que repercutiram estão as relacionadas aos desafios da Baleia Azul, do desodorante e do fogo. Relembre:

  • Em 2017, o desafio da Baleia Azul se espalhou no Brasil por meio de grupos fechados nas redes sociais em que os participantes eram instigados a praticar atos como autolesões e até suicídio.
  • Em 3 de fevereiro de 2018, Adrielly Gonçalves, de 7 anos, morreu em São Bernardo do Campo (SP) após inalar grande quantidade de desodorante aerosol. Ela estava em casa quando espirrou o spray diretamente na boca e segurou o ar, passando mal instantaneamente. A atitude foi inspirada, segundo a família da menina, por postagens que ela viu nas redes sociais.
  • Em 17 de agosto de 2018, uma menina de 12 anos terminou com queimaduras de segundo e terceiro graus em 49% do corpo no estado americano de Michigan. Na ocasião, a mãe dela, Brandi Owens, alertou sobre o "desafio do fogo" (espalhar líquidos inflamáveis pelo corpo e incendiá-lo). Há registros desta prática circulando na web desde 2014.
  • Em 2008, um relatório publicado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA já indicava os perigos de algumas tendências. Entre 1995 e 2007, o documento contabilizou 82 mortes de crianças e jovens de 6 a 19 anos em razão do "desafio do apagão". O governo americano não publicou outro estudo sobre o assunto, mas a Bloomberg chamou atenção para falas mais recentes de pesquisadores sugerindo que a mídia social ampliou o problema.

Procurada pelo GLOBO, a plataforma de vídeos curtos TikTok informou que no terceiro trimestre de 2022, 96,7% dos vídeos que foram removidos devido à violação da política de segurança foram excluídos por iniciativa da própria empresa, sem terem sido denunciados. Além disso, 91,6% das postagens deletadas não tiveram qualquer visualização, enquanto que 91,1% delas foram apagadas em até 24 horas após a divulgação.

Agora, quando se pesquisa "black out challenge" (termo em inglês do "desafio do apagão") no TikTok, aparece uma mensagem alertando os usuários sobre os riscos.

"Alguns desafios on-line podem ser perigosos, pertubadores ou até encenados. Saiba como reconhecer desafios perigosos para poder proteger sua saúde e bem-estar", afirma o TikTok no campo de resultado, sem mostrar nenhum vídeo sobre o tema, junto com um link que leva a mais informações, e o número de telefone 188, que é do Centro de Valorização da Vida (CVV).

O GLOBO