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Dino diz que candidatura de Marinho é 'visão política extremista' e que governo está mobilizado por Pacheco

1 de fevereiro de 2023 às 14:41

O ministro da Defesa, Flávio Dino, disse nesta quarta-feira (1º) que a candidatura do senador Rogério Marinho (PL-RN) para a presidência da Casa "representa chancela de uma visão política extremista" e que o governo está mobilizado pela reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Marinho é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de que foi ministro do Desenvolvimento Regional. A disputa pelo comando das casas ocorre nesta quarta-feira, após a posse dos parlamentares.

Dino, que foi exonerado para tomar posse e participar da votação, disse que o aliado do governo Rodrigo Pacheco (PSD-MG), atual presidente da Casa, representa "ponderação" e demonstrou otimismo com a vitória.

"A eleição do senador Rodrigo Pacheco é um sinal fundamental para o Brasil, uma vez que ele conduz aquela Casa e o Congresso Nacional com muito equilíbrio, ouvindo todas as correntes políticas, como deve ser", disse o ministro e senador eleito.

"Infelizmente, a candidatura do senador Rogério Marinho representaria uma chancela a uma visão política extremista, isso que esta na base da candidatura dele, lamentavelmente. Por isso, espero e tenho convicção de uma grande vitoria do Rodrigo Pacheco, que representa ponderação, equilíbrio em defesa da democracia, que o Brasil precisa", concluiu.

A declaração de Dino foi feita a jornalistas, na saída do STF (Supremo Tribunal Federal), onde participou da abertura do ano Judiciário nesta manhã.

Depois, à Folha, ele fez previsão de placar de 15, 20 votos a mais para Pacheco na disputa desta tarde. Ele disse ainda que o "governo está todo mobilizado" pela vitória do aliado, porque é "questão fundamental para governabilidade e harmonia".

Apesar da declaração de Dino, o governo havia dito que não iria intervir no processo eleitoral do Congresso.

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, fez um comentário na contramão de Dino, pela manhã. Ele também foi exonerado e voltou para o Congresso, onde tomará posse como deputado e votará em Arthur Lira (PP-AL) na Câmara.

A jornalistas na casa, ele disse que, independentemente de quem vencer a disputa, o governo terá relação institucional e que "vai continuar com a postura que tem de não intervir, não interferir".

"A era de fuzilar oposição, de criar conflito com o congresso nacional acabou. Nós queremos relação de muito diálogo", disse Padilha.

Questionado se o governo tem convicção da vitória de Pacheco no Senado, o ministro e deputado eleito afirmou ainda que não cabe ao Executivo ter "prova, nem convicção", numa referência ao bordão da Lava Jato em um dos casos envolvendo o presidente Lula.

"Cabe ao governo respeitar o que está sendo feito tanto na Câmara quanto no Senado. [Mas] Tenho ouvido não só do presidente Rodrigo Pacheco, mas também do líder do governo no Senado é de muita segurança com a vitória", afirmou.

Aliados de Pacheco estimam que o placar na disputa será de 51 votos para o atual chefe da casa.

A composição eleita em outubro para a nova legislatura é mais bolsonarista dos que no ano anterior. Além disso, há dissidências dentro do partido de Pacheco que abalaram a confiança de alguns aliados. Os senadores Lucas Barreto (AP) e Nelsinho Trad (MS) apoiam Marinho.

Como mostrou o Painel, o PSD prevê que ao menos 12 de seus 15 senadores darão votos para a reeleição Rodrigo Pacheco (MG) na disputa pela presidência da Casa.

O partido de Gilberto Kassab chega à eleição como a maior bancada do Senado, após as recentes filiações de Eliziane Gama (ex-Cidadania-MA) e Mara Gabrilli (ex-PSDB-SP). O PL, que lançou Marinho, tem 13.

Reservadamente, parlamentares aliados do governo admitem que o nome de Davi Alcolumbre pesou contra, e não a favor, da candidatura de Pacheco, em alguns casos.

São lembrados, por exemplo, quebras de acordo feitas por ele durante a primeira eleição de Rodrigo Pacheco, como promessas de um mesmo cargo feita a dois parlamentares. Além disso, também é citada a pouca atividade da Comissão de Constituição e Justiça enquanto ele a chefiou, nos últimos dois anos.

Também é apontado o grande poder dado por Pacheco ao seu aliado, que passou a controlar desde gabinetes a cargos.

Ainda sobre gabinetes, também pegou mal a obra feita no antigo gabinete de Simone Tebet, que acabou reduzido e perdendo uma grande parte de seu espaço para o vizinho, justamente Alcolumbre.

Senadores que articulam a candidatura de Marinho citam estes fatos como motivo para não votar pela reeleição de Pacheco —e, portanto, acabou sendo usado pela oposição para tentar conquistar esses nomes.

Os deputados federais e senadores que tomam posse nesta quarta-feira ampliarão levemente as bases fiéis a Bolsonaro e a Lula no Congresso, mas, em geral, mantêm o padrão da legislatura passada, de maioria conservadora.

Com isso, o presidente da República tem tentado formar a sua base de apoio com distribuição de ministérios e cargos do segundo escalão a partidos de centro e de direta.

Lula chegou a prometer que não se envolveria nas eleições do Congresso, mas na semana passada almoçou com Pacheco na Residência Oficial e até posou para foto com o candidato.

No final do seu discurso na abertura do ano judiciário no STF, o chefe do Executivo disse que pode-se não gostar no Congresso Nacional, mas "ele é resultado da quantidade de informações e do humor no dia da votação."

"Portanto temos que respeitar e só mudar quatro anos depois, quando tiver uma próxima eleição, assim que a gente vai sustentar definitivamente a democracia mais longíqua que conseguimos conquistar na República Federativa do Brasil", completou.

A declaração ocorreu em meio a uma fala em defesa da democracia e do que chamou de decisões corajosas do Supremo. Lula também atribuiu a escalada golpista no país a uma descrença na política.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirma que o placar para a presidência do Senado não é igual ao placar do apoio ao governo, e que não necessariamente os senadores que votarem em Marinho estarão na oposição.

"Não é a votação para presidente que indica quem vai ser ou quem não vai ser base governista. Não é isso que define. A eleição é um espaço muito mais restrito. É a direção do Poder Legislativo", diz.

Folha de S. Paulo