4 de março de 2023 às 11:18
Depoimentos de trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, na Serra do Rio do Grande do Sul, expõem o tratamento humilhante a que eram submetidos.
Foram resgatados 207 trabalhadores contratados por uma empresa para prestar serviços para vinícolas gaúchas durante a colheita da uva. O caso veio à tona em 22 de fevereiro, quando três trabalhadores procuraram a polícia após fugirem de um alojamento em que eram mantidos contra sua vontade. Eles relataram, ainda, nos depoimentos ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), terem ficado sujeitos a situações de agressão com choques elétricos e spray de pimenta, cárcere privado e agiotagem.
Os trabalhadores foram contratados pela Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA para trabalhar na colheita da uva. A empresa oferecia a mão de obra para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região.
O administrador da empresa, Pedro Augusto Oliveira de Santana, chegou a ser preso pela polícia, mas pagou fiança e foi solto. As vinícolas que faziam uso da mão de obra análoga à escravidão devem ser responsabilizadas, de acordo com o MTE. Quase todos já receberam as verbas rescisórias a que tinham direito, em um valor que, somado, ultrapassou R$ 1 milhão.
A empresa rejeitou a proposta de acordo apresentada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) para pagamento de indenizações individuais aos 207 trabalhadores. Os representantes legais disseram não reconhecer o trabalho em condições semelhantes à escravidão.
Nos depoimentos, a que a RBS TV teve acesso, os trabalhadores, a maioria da Bahia, disseram ainda que:
Em nota na quinta-feira (2), a Fênix, de Pedro Augusto Oliveira de Santana, disse que sempre reconheceu e protegeu "a dignidade de todos os seus colaboradores através do respeito, seriedade e cumprimento, de forma rigorosa, dos ditames da lei". Falou ainda que está apurando "qualquer suposta irregularidade" com base no relato dos trabalhadores e que não aceita "qualquer tipo de trabalho ilegal". Por fim, informou ter "compromisso em esclarecer os fatos".
Por meio de uma carta aberta, a Vinícola Aurora – uma das três que usaram mão de obra análoga à escravidão durante a colheita da uva em Bento Gonçalves, na Serra do Rio Grande do Sul – pediu desculpas aos trabalhadores resgatados e se disse envergonhada.
"Os recentes acontecimentos envolvendo nossa relação com a empresa Fênix nos envergonham profundamente (...) Gostaríamos de apresentar nossas mais sinceras desculpas aos trabalhadores vitimados pela situação. Ninguém mais do que eles trazem, nos ombros curados pelo sol, o peso de uma prática intolerável, ontem, hoje e sempre", diz um trecho da nota.
A nota vem depois que, na última terça-feira (28), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) suspendeu a participação da Aurora, além da Cooperativa Garibaldi e Salton, de suas atividades.
A ApexBrasil é um serviço social autônomo vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que promove os produtos brasileiros no exterior.
Em nota à imprensa, a Cooperativa Garibaldi disse que "repudia qualquer prática que afronte o respeito ao ser humano ou comprometa sua integridade".
Já a Vinícola Salton, em nota à imprensa, afirma que “repudia, veementemente, qualquer ato de violação dos direitos humanos".
g1