Blog do Dina - A fúria de Alicate, um dos chefões  do Sindicato do RN


A fúria de Alicate, um dos chefões  do Sindicato do RN

17 de março de 2023 às 15:29

Como um dos chefes de facção criminosa no RN mudou de ideia sobre enfrentar o Estado após ficar irado com condições de Alcaçuz


A base da pirâmide da principal facção criminosa do Rio Grande do Norte estava inquieta desde que o sistema carcerário passou a ser regido com mão pesada pelo Estado, após os eventos trágicos de 2017.

De dentro dos presídios, a base dos integrantes do Sindicato do Crime do RN fazia chegar à cúpula da organização criminosa demandas e reclamações. Queriam, essencialmente, que as lideranças fora do presídio agissem para pressionar o Estado para que as condições de antes de 2017, quando os presos mandavam nos presídios, fossem restauradas.

Quem conheceu bem essas condições foi José Kemps Pereira de Araújo, o Alicate, uma das lideranças centrais do Sindicato do RN. Quando ele foi preso por assaltos a bancos no início da década passada, se podia tudo nas penitenciárias do Rio Grande do Norte.

Alicate deixou o sistema prisional do RN para o federal em 2017 após as rebeliões e nele ficou até que, em maio de 2022, ganhou direito à progressão da pena. O Estado lhe colocou uma tornozeleira e o liberou como se fosse um preso comum.

Assim que chegou do lado de fora do presídio, rompeu o equipamento e nunca mais foi visto. Enquanto estava foragido, Alicate recebia demandas dos presos de Alcaçuz exigindo que atuasse em favor dos faccionados para obter direitos e regalias dentro dos presídios, mas ele mandava avisar que não iria entrar em confronto com o Estado.

Até que Alicate foi recapturado em ação da Polícia Federal e Polícia Civil do RN, em Pernambuco, em janeiro deste ano. Foi quando ele voltou para uma Alcaçuz diferente da que tinha deixado, e mudou de opinião sobre enfrentar o Estado.

“Enquanto ele podia fazer muita coisa de dentro da prisão como fez no passado, estava tudo certo. Mas aí ele foi preso e se deparou com a realidade do que só ouvia falar. Depois que ele sentiu na pele o que a base vinha dizendo a ele, ele mudou de opinião. O que estamos assistindo hoje no estado tem, em parte, explicação nessa história do Alicate”, me disse hoje um delegado que acompanha as investigações do caso, sob reserva.

Alicate foi transferido nessa semana, novamente, para uma unidade prisional federal. Hoje, ele recebeu um novo mandado de prisão. Ficará mais difícil repetir a história da tornozeleira, quando ele fugiu, com dois mandados determinando seu encarceramento.

A pauta do Sindicato

O Sindicato do Crime do RN, em certa medida, honra o nome que tem e funciona como uma estrutura sindical, com representados, lideranças e órgãos deliberativos.

A pauta que foi elaborada para exigir que o Estado cumpra tem 15 itens que, se implementados, tornariam as cadeias uma colônia de férias.

"Eles querem visitas duas vezes por semana; que se permita a entrada de ventiladores, televisores a liberação de comida de fora - que é uma das formas pelas quais drogas entram no presídio. Querem mutirões de soltura a cada seis meses e que os Direitos Humanos visitem os presídios 03 vezes por mês, pelo menos", me conta outro delegado com acesso às investigações.