Blog do Dina - Peso argentino já vale tão pouco que bancos alertam para falta de espaço em seus cofres


Peso argentino já vale tão pouco que bancos alertam para falta de espaço em seus cofres

27 de abril de 2023 às 13:08

Os bancos argentinos estão no limite de sua capacidade para armazenar dinheiro em espécie, e já informaram uma situação que consideram "crítica" ao Banco Central da República Argentina (BCRA). Em carta enviada à instituição, a Associação de Bancos da Argentina (Aba) e a Associação de Bancos Argentinos (Adeba) comunicaram que o excesso de dinheiro em espécie nas agências bancárias “está causando dificuldades em termos de logística, infraestrutura e elevados custos financeiros”.

A decisão do governo do presidente Alberto Fernández de não emitir notas de valor superior aos mil pesos — hoje a mais alta que circula na Argentina — está causando problemas graves aos bancos que operam no país. Como a moeda local vale cada vez menos (a cotação do dólar na Argentina se aproxima de 500 pesos e a inflação superou 100% ao ano) é preciso usar uma quantidade muito maior de cédulas para pagar por um produto ou fazer uma transferência bancária.

Pilhas de notas de 500 e 100 pesos estão ocupando espaços cada vez mais limitados, que impedem que os bancos possam, como sempre fizeram, ceder lugares de armazenamento ao próprio Banco Central.

Mas o governo decidiu não emitir cédulas com valores maiores porque isso deixaria claro, na visão da Casa Rosada, que a inflação está fora de controle. Não emitir notas de cinco ou até dez mil pesos, como defendem economistas locais e desejariam os bancos argentinos, por sua vez, causa problemas cada dia mais complicados.

Os argentinos, diferentemente dos brasileiros, usam muito dinheiro em espécie no dia a dia. Com uma economia informal cada vez maior, consequência, entre outros motivos, da forte pressão tributária, muitas operações se fazem em dinheiro, e com notas de baixo valor.

De acordo com o economista Aldo Abram, numa lista de 191 países no mundo, a Argentina está na posição número 21 como um dos que impõem uma carga tributária mais pesada a seu setor privado, o que afeta, sobretudo, pequenas e médias empresas, e trabalhadores autônomos. A saída encontrada por muitos foi operar na informalidade, e fora do sistema bancário.

Métodos de pagamento eletrônico, como transferências, entre outros, são utilizados, mas muito menos do que no Brasil. Supermercados, restaurantes, taxis e compras, em geral, muitas vezes se pagam em dinheiro.

Além de não terem mais onde guardar dinheiro em espécie nas agências, os bancos devem repor cada vez com maior frequência o dinheiro dos caixas eletrônicos. Cada caixa eletrônico tem, em geral, quatro gavetas nas quais cabem 2 mil notas.

Se as notas forem de 100 pesos, cada caixa eletrônico pode ter, no máximo, 800 mil pesos, montante que num país que teve 7,7% de inflação apenas em março dura muito pouco.

Caixas eletrônicos não dão vazão
Se os bancos colocarem notas de mil pesos, os caixas podem ter 8 milhões de pesos, montante que, num feriadão, por exemplo, não dá conta da demanda por dinheiro no país. Por isso, é frequente encontrar na Argentina cartazes que informem que um caixa eletrônico ficou sem dinheiro.

Existe, ainda, uma enorme quantidade de notas em mau estado, que já não têm qualidade para continuar circulando. Outro problema do BCRA é que o procedimento de destruição destas notas é lento e tanto a instituição como os bancos privados estão acumulando uma enorme quantidade de dinheiro em espécie, sobretudo de baixo valor, que não poderá mais ser utilizado e também ocupa espaço.

“O Banco Central está buscando comprar uma máquina que tenha maior capacidade de destruição das notas. Mas a cada mês que passa, o dinheiro se deteriora mais e o processo de eliminação do dinheiro em mau estado não é aprimorado”, informaram as associações bancárias argentinas.

Em fevereiro passado, circulou a informação extraoficial de que seria criada uma nota de 2 mil pesos, mas a iniciativa não tem data para acontecer. Lançar uma nova nota demora meses, e ninguém acredita que isso acontecerá antes das eleições presidenciais de 22 de outubro.

O GLOBO

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